JANEIRO/2021 – Tomografia computadorizada de alta resolução aplicada à endodontia – Parte 1 – LIV

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O campo das variações da morfologia dental, tanto interna quanto externamente, é enorme; cada grupo dental pode ser passível de variantes e até de aberrações em sua forma. O resultado das diferenças anatômicas tem inúmeros fatores, sendo alguns deles: etnia, idade do paciente e traumatismo dental.

Tendo em vista que o sucesso da terapia endodôntica requer o conhecimento da anatomia dental e suas possíveis variantes, um exame radiográfico detalhado é essencial para a observação do sistema de raízes e condutos radiculares.

A radiografia periapical, em virtude de sua facilidade de execução, custo e dose de radiação, é importante aliada para avaliações pré-operatórias. Contudo, a radiografia periapical é uma projeção bidimensional de um corpo de três dimensões e, portanto, sobreposições de estruturas são inerentes – o que pode mascarar variações/alterações e levar a erros de interpretação. A Tomografia computadorizada por feixe cônico (TCFC), ou cone beam, supera estas limitações, capacitando a observação de todos os três planos dimensionais.

Vários estudos mostram que a TCFC proporciona uma visualização mais acurada da morfologia dos sistemas de canais radiculares. Apresentaremos nesta edição do boletim científico, alguns exemplos de variações anatômicas melhor observadas por meio da TCFC.

O incisivo central superior possui uma única raiz e um único conduto que, na maioria dos casos, segue a sua anatomia externa. Por vezes, pode-se observar um conduto que emerge perpendicularmente ao conduto principal, denominado de canal lateral.

Dente 11: presença de canal lateral, de orientação oblíqua, ao término do seu terço médio radicular (ponta da seta).

O istmo, em anatomia, significa uma área aonde existe estreitamento do acidente anatômico. Em endodontia, o istmo radicular representa a constrição da luz do conduto; eventualmente, o istmo pode se comunicar a um outro conduto. Nos molares superiores, estudos relatam a prevalência de 60,8% de istmos, sendo que destes, 93,5% ocorrem na raiz mésio vestibular

Presença de istmo na raiz mésio vestibular do dente 16 (ponta da seta)

O molar superior, geralmente, apresenta três raízes: mésio vestibular, disto vestibular e palatal. Estudos in vitro relatam que em 70% dos casos, pode-se observar a presença de conduto colateral à raiz mésio vestibular, localizado palatalmente ao conduto principal. Frequentemente, encontramos na literatura os seguintes nomes para esta variação: conduto mésio lingual/mésio palatal ou quarto canal.

Elemento 16, onde é possível observar a presença de um canal colateral à raiz Mésio vestibular (ponta da seta).

Os molares inferiores podem mostrar inúmeras variações morfológicas. De acordo com Patel e colaboradores (2016), a variação mais comum dos molares inferiores (com incidência entre 14 a 29%) é a presença de uma raiz supranumerária adjacente à raiz distal, comumente nomeada como raiz distolingual. Usualmente, os molares inferiores apresentam uma raiz mesial e uma raiz distal.

Ainda no tocante à anatomia dos dentes molares inferiores, o segundo molar em especial, pode apresentar um tipo variante conhecida como “conduto em forma de C” (ou C-shape); este tipo de canal é encontrado em dentes com fusão radicular na face vestibular ou lingual. O conduto em forma de C tem a expressiva incidência de 31% nas populações de origem oriental.

Elemento 46 mostrando raiz supranumerária adjacente à raiz distal. Também é possível verificar a morfologia do dente 47 anômala: raízes estão fusionadas por vestibular, com seu conduto em forma de letra C. Paciente de origem oriental.

Referências Bibliográficas

-Patel S, Brown J, Pimental T, Kelly RD, Abella F, Durack C. Cone Beam computed tomography in Endodontics – a review of the literature. International Endodontic Journal, 2019 https://doi.org/10.1111/iej.13115

– Silva EJNL, Castro RWQ, Nejaim Y, Silva AIV, Haiter-Neto F, Silberman A, Cohenca N. Evaluation of root canal configuration of maxillary and mandibulary anterior teeth using cone beam computed tomography: An in-vivo study. Quintessence Int. 2016 Jan;47(1):19-24. doi: 10.3290/j.qi.a34807.

-Rabelo, LEG.Utilização de estratégia dinâmica de naveção em imagens axiais de tomografia computadorizada de feixe cônico na detecção de istmo radicular na dentição permanente humana. Dissertação (Mestrado em Odontologia) – Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás. Goiás, 2015.

-Patel S, Harvey S, Durack C. Tomografia computadorizada por feixe cônico em endodontia. São Paulo: Quintessence Editora, 2016. Capítulo 6 (Avaliação da Anatomia do Canal Radicular). Pags 67-77.

-Papaiz EG, Capella LRC, Oliveira RJ. Atlas de Tomografia Computadorizada por Feixe Cônico para o Cirurgião dentista. São Paulo: Editora Santos, 2011. Capítulo 2 (Alterações no Órgão Dental). Pags 41-60.

3 Responses

  1. Flaviane Sabino Pompeo

    Como peço a tomagrafia para investigação endodôntica de um canal acessório?

  2. Guilherme Noriaki

    Excelente exame. Indispensável para uma endodontia de excelência.

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