Anatomia Radiográfica e Tomográfica aplicada à Odontologia Parte II – Mandíbula – XXVII

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Esta edição do boletim informativo da Papaiz dará ênfase à mandíbula, seus reparos anatômicos radiográficos/tomográficos e estruturas circunjacentes.

Dentro das especialidades cirúrgicas da Odontologia, o conhecimento dos reparos anatômicos (tanto em maxila, quanto em mandíbula) é importante, visto que os mesmos constituem regiões limítrofes que devem ser respeitadas, a fim de se evitar acidentes trans operatórios ou complicações pós-cirúrgicas, por exemplo.

A mandíbula é constituída por um osso único. Entretanto, durante a vida intrauterina, na sexta semana, a mandíbula fetal é formada por um par de ossos que se unem através de uma fibrocartilagem em região de sínfise (situada à linha média). Posteriormente, estes segmentos se fundirão por ossificação. É a única porção móvel do esqueleto facial, onde podemos descrever:

-Corpo da mandíbula, uma estrutura em formato da letra U

-Processo alveolar (reparo alicerce dos dentes inferiores), tem a crista óssea alveolar como limite superior e a base da mandíbula seu limite inferior. As lâminas/corticais vestibular e lingual delimitam o sentido látero lateral.

-Ramo da mandíbula: projeção vertical, de aspecto retangular, que se inicia a partir do terço posterior do corpo da mandíbula. Da porção mais superior e posterior do ramo da mandíbula, projeta-se o processo condilar, formado pelo colo da mandíbula e cabeça da mandíbula (este último, componente ósseo da ATM). O processo coronóide, local de inserção das fibras anteriores do msculo temporal ,é uma projeção óssea de aspecto triangular situada na porção mais superior do bordo anterior do ramo da mandíbula

-Angulo da mandíbula, que compõe a porção mais posterior e inferior da mandíbula.

 

 

 

Na porção central do ramo da mandíbula, ocupando a sua face lingual (ou medial), temos o forame da mandíbula, onde imergem artéria, veia e nervo alveolares inferiores – cujo trajeto acontece no interior do canal da mandíbula. O canal da mandíbula possui orientação inferior e vestibular, em relação ao forame da mandíbula. A face vestibular do corpo da mandíbula, na altura dos pré-molares inferiores, emergem artéria, veia e nervo mentuais.

 

Através dos exames radiográficos, podemos ter a observação do canal da mandíbula e do forame mentual, reparos estes que constituem zonas limítrofes importantes dentro das especialidades cirúrgicas da odontologia; acidentes operatórios que envolvam os referidos reparos anatômicos podem, frequentemente, lesionar seus nervos correspondentes, resultando como complicação, a parestesia.

Radiografia panorâmica mostrando a relação de contato do elemento 48 com o canal da mandíbula e a relação do elemento 38 (em posição ectópica) com o canal da mandíbula assim como com o forame da mandíbula

 

Vista panorâmica e cortes transversais (ou parassagitais) mostrando a relação de contato das raízes do dente 38 com o canal da mandíbula (azul).

 

Por meio das radiografias periapicais da região de molares, temos a projeção de reparos anatômicos, tais como a linha oblíqua (uma das áreas de resistência da mandíbula e local da inserção de parte do músculo bucinador) situada na face vestibular do processo alveolar e a linha milo-hióidea (local de inserção do músculo milo-hióideo), que percorre a face lingual do processo alveolar. Há ainda a projeção da fóvea submandibular, local onde aloja-se a glândula submandibular.

Pela incidência periapical da região de pré-molares, podemos observar a projeção do forame mentual

O canal da mandíbula pode continuar seu percurso intra-ósseo logo após o forame mentual, denominado agora como trajeto do canal do nervo incisivo.

As radiografias periapicais de incisivos inferiores podem projetar o forame lingual anterior, reparo anatômico situado na linha média. Podemos observar, ainda, as espinhas genianas, local de inserção dos músculos genióideo e genioglosso. Tanto o forame lingual anterior quanto as espinhas genianas se localizam na face lingual do processo alveolar. A protuberância mentual, localizada na face vestibular, é caracterizada por uma área de forte condensação óssea, à região anterior da mandíbula.

 

Vale ressaltar que apenas a tomografia computadorizada permite a observação dos três planos do corpo humano: altura, largura e profundidade. Não é possível ter a observação da profundidade por meio de radiografias/vistas panorâmicas, o que pode mimetizar certas situações, como a exemplificada a seguir:

A vista panorâmica acima, sugere que o implante dental instalado na região do dente 45 apresenta relação de contato/trespasse com a cortical do canal da mandíbula.

 

No entanto, apenas por meio de cortes transversais/parassagitais ou por meio de uma vista frontal, verificamos que o implante dental instalado na região do dente 45, posiciona-se lingualmente ao canal da mandíbula, sem manter relação de contato com o mesmo.

 

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Referências Biblíograficas
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–Papaiz EG; Capella LRC, Oliveira RJ. Atlas de Tomografia Computadorizada por Feixe Conico para o Cirurgião-dentista. São Paulo: Editora Santos, 2011.

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-Moore KL, Dalley AF.Anatomia orientada para a Clínica.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. Capítulo 7 (Cabeça). Pags. 821-965.