Publicação Mensal Interna da Papaiz – Edição LIII – Dezembro/2020
A erupção de um dado elemento dental em sua correta posição no arco, frequentemente, pode falhar – a falta de espaço na arcada, na grande maioria das vezes, pode ser a razão pela qual um dente pode não irromper à cavidade bucal (ou permanecer semi irrompido).
Desta maneira, a impacção de elementos dentais é achado radiográfico bastante usual. Depois dos terceiros molares inferiores, os caninos do arco superior são os dentes impactados mais comuns. No arco inferior, no entanto, a incidência de caninos impactados é bem menor – portanto, os casos reportados na literatura científica, também são escassos.
O dente permanente movimenta-se em direção à raiz do elemento decíduo correspondente, com consequente rizólise desta última, até que o órgão esfolie. A retenção prolongada de peças dentais decíduas pode impedir que o sucessor permanente irrompa. Os caninos são os dentes que percorrem a maior distância intra-óssea em direção à crista alveolar; por esta razão, podem impactar com maior frequência.
Crânio de criança, no início da dentição mista, onde todos os dentes decíduos ainda estão presentes e os primeiros molares já estão irrompidos. Seccionando a cortical óssea externa, observam-se os demais dentes permanentes não irrompidos, em processo de rizogênese. Fonte: Wheeler, 2012.
Exames de imagem são imprescindíveis para análise e estudo da cronologia de irrupção dental, que é estritamente individual, alterando-se de paciente para paciente. O cirurgião dentista só consegue estimar as probabilidades de irrupção (ou não irrupção) de um dado elemento apenas por meio das radiografias, e assim, intervir – por meio da exodontia de elementos com retenção prolongada, interceptando possíveis más oclusões – no momento oportuno.
Os dentes caninos, além de se situarem em região anatômica com grande viés estético, são elementos de suma importância na oclusão dental: funcionam como guias, orientando os movimentos mandibulares de lateralidade.
O tracionamento ortodôntico de elementos não irrompidos/semi irrompidos pode ser opção viável para o correto posicionamento na arcada. No entanto, devemos considerar as condições morfológicas entre mandíbula e maxila para entender o prognóstico de um elemento dental intraósseo. Em razão da mandíbula possuir osso medular compacto e corticais mais robustas, um possível tracionamento ortodôntico no arco inferior demandaria maior força ortodôntica (efeitos colaterais) e o tempo de tratamento seria infinitamente maior em relação aos casos de tracionamento na maxila. Portanto, em mandíbula, dependendo da posição do dente e da idade do paciente, o prognóstico tende a ser menos favorável.
O caso a seguir ilustra canino inferior direito não irrompido, em posição ectópica, cujo prognóstico é ruim. Sua coroa está distante da cortical da crista óssea alveolar, posicionada inferior e vestibularmente às raízes dos incisivos inferiores. Ainda, observa-se imagem hipodensa associada à sua junção amelocementária, compatível com cisto dentígero. O dente 83 está retido no arco e apresenta rizólise.
Referências Bibliográficas
– Vellini-Ferreira F, Cotrim-Ferreira FA, Cotrim-Ferreira A. Ortodontia Clínica: tratamento com aparelhos fixos. São Paulo: Quintessence, 2019.
-Dalessandri D, Parrini S, Rubiano R, Gallone D, Migliorati M. Impacted and transmigrant mandibular canines incidence, aetiology and treatment: a systematic review. European Journal Orthodontics, 2017.
-Nelson SJ, Ash MM. Wheeler, anatomia dental, fisiologia e oclusão. Rio de Janeiro, Elsevier: 2012.
Dr Lirio Piedade Rosa
imagens radiográficas de excelente qualidade.
João C.Carvaho
Ótimo trabalho e, oportuno Abs.