As lesões fibro-ósseas, de modo geral, são caracterizadas pela substituição idiopática do tecido ósseo sadio por tecido fibroso que se mineraliza ao longo do tempo.
O termo “lesão fibro-óssea” descreve apenas um processo de patogênese, mas não representa um diagnóstico específico. Em outras palavras, existem várias patologias designadas como entidades fibro-ósseas; algumas podem ser diagnósticadas apenas por intermédio do exame clínico e radiográfico. Em outros casos, no entanto, necessitamos reconhecer as suas características clínicas, radiográficas e histopatológicas para um diagnóstico apropriado.
Incluidas dentre as lesões fibro-ósseas no complexo maxilomandibular, temos:
-Displasia cemento óssea periapical (DCOP, tem origem no ligamento periodontal, podendo ser solitária ou surgir de forma adjacente a um pequeno grupo de elementos)
-Displasia cemento óssea florida (DOF, tem origem no ligamento periodontal e acomete diversos elementos)
-Displasia cemento óssea focal (variante solitário das entidades acima, em locais edêntulos)
-Displasia fibrosa (que costuma acometer grandes porções do osso medular e cortical, em um ou mais ósseos do crânio)
-Fibroma ossificante (neoplasia verdadeira)
De forma geral, o período de maturação das lesões fibro-ósseas pode ser verificado radiograficamente: lesões mais recentes são completamente radiolúcidas/hipodensas e em virtude de sua gradativa mineralização, vão opacificando, até se tornarem predominantemente radiopacas/hiperdensas. O termo “densidade mista” representa radiograficamente o estágio intermediário de mineralização das lesões fibro-ósseas.
A displasia cemento óssea periapical (DCOP) e a displasia cemento óssea florida (DOF) possuem características bem similares. Ambas acometem os processos alveolares da maxila e mandíbula, envolvem as raízes dos elementos dentais (já que estas patologias têm origem no ligamento periodontal), sem alterar a sua vitalidade pulpar – muitas vezes, em virtudade do seu caráter assintomático, essas lesões são identificadas incidentalmente por meio dos exames de imagem.
Enquanto que a DCOP pode ser solitária ou envolver um pequeno grupo de dentes, a DOF pode abranger uma arcada completa. Tanto em DCOP quanto em DOF, há predileção acentuada pelo gênero feminino, em especial melanodermas entre as idades de 30 a 50 anos.
Na DCOP, as lesões surgem como áreas radiolúcidas circunscritas envolvendo a área periapical de um ou mais dentes – é importante ressaltar, que o padrão inicial da displasia cemento óssea periapical solitária é radiograficamente indistinguível de um granuloma periapical; a diferença clínica entre DCOP e granuloma, é que no segundo caso, nunca há vitalidade pulpar. Os sinais clínicos e radiográficos são patognomônicos nos casos de DCOP e DOF, o que favorece um forte diagnóstico presuntivo sem que uma biópsia seja necessária.
Lesões fibro-ósseas têm caráter hipovascular e, portanto, a resposta imunológica é deficiente, assim como seu potencial reparador; as lesões de DCOP e da DOF são propensas à necrose ao menor estimulo agressor. Desta forma, como a biópsia e a extração dental estão contra-indicadas, o melhor tratamento para os pacientes assintomáticos consiste em acompanhamento dos casos. O início do aparecimento de sintomas está geralmente relacionado à exposição das lesões ao meio bucal (externo) em virtude do avanço da doença periodontal, já que há perda de inserção óssea e consequente exposição radicular e da lesão. Quando o osso displasico (a DCOP propriamente dita) entra em contato com a cavidade oral, o processo torna-se uma osteomielite crônica, e a excisão do “sequestro ósseo” se faz necessária.
Por André Simões – Especialista em Radiologia Odontológica
Referências bibliográficas
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Andréa
Excelente as publicações ! Lúdicas e de fácil compreenssão.
Parabéns equipe !