Por Ana Paula Foschini, Kaique Alves e André Simões
O defeito ósseo de desenvolvimento da mandíbula (DODM), anteriormente chamado de cisto ósseo de stafne, cisto ósseo latente ou cisto ósseo estático, foi descrito pela primeira vez em 1942, por Edward Stafne. Caracteriza-se por imagem radiolúcida ovoide com margens ósseas definidas, localizada próxima ao ângulo mandibular, mais precisamente entre a base da mandíbula e o canal da mandíbula.
Apesar das nomenclaturas anteriores utilizarem o termo cisto (remetendo à uma entidade patológica), o DODM não é um processo litíco; durante o crescimento e desenvolvimento da mandíbula, de forma idiopática, forma-se uma cavidade óssea contígua ao tecido da glândula salivar. Após o término do crescimento da mandíbula, as dimensões do DODM permanecerão as mesmas. Por este motivo, o DODM é considerado atualmente como uma variação anatômica e não como uma patologia.
Essa cavidade óssea pode variar entre 1mm e 3mm, e na maioria dos casos, acometem mais o gênero masculino, podendo apresentar-se de forma unilateral e raramente bilateral são assintomáticas.
A etiologia ainda é motivo de debate entre muitos pesquisadores, alguns relacionam às questões congênitas, no desenvolvimento mandibular ainda no feto, em contrapartida também existem indícios que apontam certa pressão imposta pelas glândulas submandibular, sublingual e/ou parótida, devido à presença de tecido glandular encontrado em diversas análises laboratoriais.
São encontrados acidentalmente por exames radiográficos de rotina como a radiografia panorâmica utilizada como protocolo inicial em diagnóstico por imagem em Odontologia. Mas seu aspecto radiográfico em duas dimensões (como as radiografias panorâmicas) pode mimetizar áreas de rarefação/lise óssea. A tomografia computadorizada de feixe cônico, que permite observação nos três planos seccionais do complexo maxilo mandíbular, é muito útil na observação topográfica destes casos, podendo muitas vezes concluir o diagnóstico. Tomograficamente, o DODM apresenta aspectos patognomônicos: concavidade na face lingual da mandíbula nas regiões correspondentes às glândulas salivares, abaixo ou contínua à trajetória do canal da mandíbula, cujo tamanho do DODM permanecerá inalterado, independente da época da aquisição tomográfica.
Outros recursos como a sialografia (exame no qual é utilizado a introdução de meio de contraste no interior das glândulas salivares), e/ou ressonância magnética também podem ser utilizados. Por não apresentar sintomatologia, alguns cirurgiões aboliram o tratamento cirúrgico de imediato e optam por acompanhamento radiográfico.
Caso I Figura A. Radiografia panorâmica evidenciando imagem radiolúcida, circunscrita e corticalizada em base da mandíbula à esquerda, mimetizando área de processo de lise óssea.
Caso I Figura B. Cortes tomográficos evidência concavidade na face lingual da mandíbula (S) à região de glândula submandibular, contígua ao canal da mandíbula (CM). Defeito ósseo de desenvolvimento da mandíbula.
Caso II Figura A. Vista panorâmica com áreas hipodensas (setas amarelas) mimetizando processos de lise óssea em região periapical à direita e em base da mandíbula à esquerda.
Caso II Figura B. Cortes tomográficos evidenciando concavidades (S) à face lingual da mandíbula, em região das glândulas sublingual à direita e submandibular à esquerda. Defeito ósseo de desenvolvimento da mandíbula.
Caso III Figura A. Vista panorâmica da mandíbula evidenciando áreas radiolúcidas de ambos os lados, próximas aos respectivos ângulos da mandíbula.
Caso III Figura B. Cortes tomográficos mostrando concavidades bilaterais à face lingual da mandíbula (S). Defeito ósseo de desenvolvimento da mandíbula.
Referências Bibliográficas
-Capella LRC, Oliveira, RJ. Atlas de Radiografia Panorâmica para o Cirurgião-Dentista. São Paulo: Editora Santos, 2014.
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