Os Seios Maxilares e sua relevância para o Cirurgião Dentista

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Os Seios Maxilares e sua relevância para o Cirurgião Dentista

Segundo Friedrich Anton Pasler, 90% de todas as sinusopatias têm origem rinogênica e, portanto não são usualmente tratadas por cirurgiões dentistas. Os seios maxilares, por outro lado, representam uma exceção à regra, já que a área de atuação do cirurgião dentista é “imediatamente adjacente”.
Existe uma relação de proximidade entre os seios maxilares com o processo alveolar da maxila. Eventualmente, frente a um agente patológico oriundo do processo alveolar, ocorrerão respostas de defesa das cavidades paranasais que nem sempre levarão a manifestações clínicas. Deste ponto de vista, é imprescindível uma avaliação Imaginológica dos seios maxilares por parte das diferentes especialidades Odontológicas, de modo a assegurar as atuações do Cirurgião Dentista dentro do Sistema Estomatognático.
Relembremos rapidamente da anatomia do complexo maxilo facial : A maxila é um osso par, pertencente ao viscerocrânio ou esplancnocrânio. Compõe acidentes anatômicos como parte do assoalho da cavidade orbital, da parede lateral da cavidade nasal e parte do assoalho da cavidade nasal, além, é claro, de constituir o processo alveolar, que é o alicerce dos dentes superiores. As raízes dos pré- molares e molares (em alguns casos até as raízes de caninos e de incisivos laterais) mantêm relação de proximidade/contato com o assoalho do seio maxilar.

Aspecto Frontal da Maxila – Suas regiões limítrofes
1 – Processo Frontal (parede medial da órbita)
2 – Assoalho da órbita correspondente à maxila
3 – Processo Zigomático
4 – Corpo
5- Processo Alveolar
 

Vista Sagital da Maxila
1 – Parede lateral da cavidade nasal
2 – Assoalho da cavidade nasal
3 – Processo Alveolar
4a – Concha Nasal Inferior
4b – Concha Nasal Média
4c – Concha Nasal Superior
5 – Seio Esfenoidal
 


Note acima a relação de contato das raízes dos dentes incisivo lateral, canino, pré-molar e molares do lado esquerdo com o seio maxilar.
 

Deste modo, uma afecção odontogênica (uma lesão periapical ou periodontal, um cisto ou tumor ou até fraturas da maxila) que mantenha contato com o seio maxilar, frequentemente estimula uma repercussão colateral da mucosa sinusal e esta mucosa muitas vezes responderá com dor, rinorréria, cefaleia, obstrução nasal, coleção purulenta e febre, ou seja, sinais característicos da sinusite.
Por outro lado, uma inflamação do seio maxilar, não tendo origem dental, pode trazer sintomatologia a um elemento específico durante a mastigação; o que leva o paciente a procurar o Cirurgião Dentista. Esta é a razão pela qual o CD deve reconhecer as características radiográficas e imaginológicas das frequentes alterações dos seios maxilares, a fim de tratar as afecções de origem dental e, indicar um Otorrinolaringologista quando da necessidade de um tratamento multidisciplinar.

 

Abordaremos de forma sucinta nesta edição, as sinusopatias mais frequentes observadas através das Radiografias Panorâmicas e de Tomografias Computadorizadas por Feixe Cônico. Posteriormente, ilustraremos as alterações dos seios maxilares de origem odontogênica.

 

Seios Paranasais e Imaginologia

O osso da maxila é um osso aerado, ou seja, uma cavidade que permite a passagem de ar. Essa cavidade recebe o nome de Seio Maxilar. O seio maxilar é um dos seios paranasais; o crânio ainda possui um seio frontal, um seio esfenoidal e um seio etmoidal constituído por diversas cavidades, lojas ósseas, também chamadas de células etmoidais.

 

 

Ilustração esquemática da vista frontal dos seios paranasais (o seio esfenoidal tem localização mais posterior)
Fonte: http://www.improve.com/Paranasal-Sinuses/3441

 

Os seios maxilares, juntamente com os demais seios paranasais funcionam como uma espécie de filtro do ar inspirado: os seios aquecem, umidificam e captam impurezas do ar, com a função de proteger a traqueia e os pulmões. Estes seios são revestidos por uma membrana ciliada e produtora de muco. Todos os seios paranasais tem comunicação com a cavidade nasal.

 

 

Corte Coronal – Aspecto da cavidade nasal, seios maxilares, células etmoidais e a órbita

 

O muco, que tem a função de aquecer e umidificar o ar inspirado, é constantemente produzido e precisa ser eliminado. Os seios maxilares comunicam-se com a cavidade nasal através de uma estrutura diminuta, chamada de óstio ou hiato maxilar; a movimentação da membrana ciliada, faz com que o muco presente no seio maxilar atravesse este reparo anatômico e chegue à cavidade nasal.

 

Corte Coronal. O detalhe em roxo indica o caminho que o muco deve percorrer até ser drenado para a Corte Coronal – Cavidade Nasal (óstio ou hiato maxilar).

 

Em indivíduos hígidos, existe uma relação de equilíbrio entre o funcionamento/movimentação da mucosa ciliar e a luz dos óstios maxilares. Quando há um bloqueio dos óstios maxilares por um processo inflamatório (rinite, por exemplo), as vias de drenagem de secreção, obstruídas, comprometem a ventilação do seio maxilar e instala-se um quadro de retenção de muco constante e crescente, e que leva à sinusite.

 

Corte Coronal. As setas indicam uma variação anatômica frequente e bastante facilitadora: óstios maxilares acessórios, que constituem uma segunda via de drenagem do muco para a cavidade nasal

Anatomia Imaginológica do Seio Maxilar

O seio maxilar é o que possui o maior volume dentre as demais cavidades paranasais. Os seios maxilares, na maioria das vezes, costumam ser simétricos. As regiões limítrofes do seio maxilar são suas seis paredes: anterior, medial, lateral, posterior, superior e inferior (sendo que as duas últimas estruturas também são conhecidas como teto e assoalho, respectivamente). Lembrando que a parede superior/teto do seio maxilar é a mesma estrutura que o assoalho da cavidade orbital, assim como a parede medial do seio maxilar também corresponde à parede lateral da cavidade nasal.

 

Radiografia Panorâmica

 

 

 

Como já descrito, o seio maxilar ocupa o corpo da maxila e desenvolve-se (pneumatiza-se) em direção ao processo alveolar até os 22 anos de idade, aproximadamente. A erupção dos dentes superiores à cavidade bucal estimula o desenvolvimento supero-inferior dos seios maxilares: o assoalho do seio maxilar costuma insinuar-se entre as raízes dos dentes posteriores (ou perto delas). Da mesma forma, quando um elemento dental é perdido, o seio maxilar tende a estender-se em direção à crista alveolar correspondente (o que chamamos de hiperpneumatização, ou extensão para alveolar do seio maxilar).

 

Características Imaginológicas de Materiais de Enxertia

Esta característica de expansão, de hiperpneumatização do seio maxilar, quando da ausência de elementos dentais, interfere no planejamento em implantodontia. As manobras de levantamento do seio maxilar visam, por meio de materiais osteoindutores e osteogênicos, reestabelecer a função do processo alveolar: ser o alicerce dos dentes do arco superior.

 

 

Imagem de densidade diferenciada (semelhantes à grânulos) no interior do seio maxilar direito : presença de material de enxertia

 

 

Material de enxertia observado em ambos os seios maxilares

 

Frequentes Alterações dos Seios Maxilares de interesse em Odontologia

 

Pólipo / Polipose Sinusal

O pólipo/polipose sinusal é uma resposta da mucosa de uma (ou mais) parede (s) sinusal (is) frente a um fator etiológico extrínseco (poluição, por exemplo) que desencadeia um processo inflamatório. Radiograficamente pode-se observar tanto uma única projeção pendular, quanto várias delas, associadas às paredes da cavidade sinusal.

 

 

Projeção Pendular associada às paredes medial e inferior do seio maxilar: Pólipo/polipose sinusal

 

 

Projeções Pendulares associadas às paredes de ambos os seios maxilares: Pólipo/polipose sinusal

 

Fenômeno de retenção de muco

O fenômeno de retenção de muco ou cisto de retenção mucoso tem etiologia provavelmente relacionada à obstrução dos ductos secretores das células caliciformes (células produtoras de muco) presentes nas paredes dos seios paranasais. Trata-se de um achado radiográfico: a grande maioria destes casos é assintomática; seu aspecto radiográfico é de imagem arredondada/ovalada e não corticalizada. Quando há dor, os sinais clínicos são semelhantes à de sinusite. Alguns autores relatam que o fenômeno de retenção de muco pode permanecer estacionário no seu tamanho; sua regressão geralmente é de forma espontânea.

 

 

Setas amarelas – Imagem radiopaca, circunscrita e não corticalizada, projetada ao seio maxilar esquerdo: fenômeno de retenção de muco.

 

 

Imagem de densidade aumentada ao seio maxilar direito, de aspecto oval e não corticalizada associando-se ao assoalho (parede inferior) e as paredes lateral e medial, quase que obliterando a cavidade.

 

 

Imagem de densidade aumentada ao seio maxilar direito, de aspecto oval e não corticalizada, associando-se ao assoalho (parede inferior).

 

Confira na próxima edição, as Sinusopatias de Origem Odontogênica.

 

Referências Bibliográficas

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-Lawson W, Patel ZM, Lin FY. The development and pathologic processes that influence maxillary sinus pneumatization. Anat Rec, v291, n.11, p. 1154-63, 2008
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-Pasler FA. Dentogenic Sinus Pathology. In : Color Atlas of Dental Medicine – Radiology. Stuttgart : Thieme. Capítulo 3. Pag. 159-170

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