NOVEMBRO/2020 – Radiologia Odontológica Aplicada à Periodontia – LII

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Publicação Mensal Interna da Papaiz – Edição LII – Novembro 2020

Macroscopicamente, a face externa de um elemento dental é composta pelas suas porções coronária e radicular. À medida que os estágios de formação dental progridem, a porção coronária irrompe à cavidade bucal até o nível da junção amelocementária (interface entre coroa e raiz).   

Fonte: Ferreira 6

O orgão dental não está fixo de forma justaposta ao osso. Há um complexo aparato de inserção na interface osso/raiz dental: o periodonto de sustentação. O cemento, o ligamento periodontal e o alvéolo dental são seus integrantes. O cemento é avascular, o ligamento periodontal é composto por tecido conjuntivo frouxo e o processo alveolar é constituído por tecido conjuntivo mineralizado (ósseo). Ainda, o periodonto possui um outro elemento, denominado de periodonto de proteção, compreendido unicamente por partes moles: o tecido gengival.

Fonte: Ferreira 6

Tanto o cemento quanto o processo alveolar são considerados como verdadeiras superfícies articulares, e o ligamento periodontal é o elo entre estas superfícies – o elemento dental, sob vetores de força, sofre movimentação. O ato mastigatório, o tratamento ortodôntico e a sucção digital, são exemplos de forças aplicadas aos dentes.

Durante a mastigação, o periodonto de sustentação, os dentes vizinhos e os antagonistas estabilizam cada unidade dental dentro de sua loja óssea. Em máxima intercuspidação, por exemplo, os elementos intruem em seus alvéolos: o ligamento periodontal e o líquido intersticial do espaço pericementário amortecem as cargas mastigatórias. Após a tendência ao movimento de intrusão, a pressão dos fluidos intersticiais e os ligamentos comprimidos fazem com que o elemento dental retorne ao nível do plano oclusal.

O esmalte dental, a dentina e o processo alveolar, em razão de seu conteúdo mineral, podem ser observados pelos métodos radiográficos; o cemento, que reveste externamente a raiz, também é composto por minerais, no entanto, sua espessura é tão diminuta que radiograficamente, não é possível distinguir a interface entre cemento e dentina radicular. Por meio do exame radiográfico, os componentes do periodonto de sustentação observáveis são: as raízes, as cristas ósseas alveolares e a lâmina dura. As raízes são projeções cônicas anexas inferiormente à junção amelocementária. A crista óssea compreende a superfície mais superior do osso cortical e fisiologicamente, está adjacente à altura da junção amelocementária; a crista óssea alveolar possui quatro faces (mesial, distal, vestibular e lingual). Por último, um ténue halo radiopaco/hiperdenso pode ser observado delimitando toda extensão radicular; este pequeno contorno opaco recebe o nome de lâmina dura, uma estrutura anatômica observada apenas radiograficamente. Entre a lâmina dura e a raiz, existe uma área radiolúcida/hipodensa: o espaço pericementário, sítio dos ligamentos periodontais (que não podem ser observados nos exames de Raios X).

A doença periodontal implica a destruição, por meio de um processo inflamatório progressivo e irreversível dos componentes de sustentação. O exame físico constitui a pedra angular no diagnóstico das enfermidades periodontais. No entanto, a avaliação radiográfica é um importante adjunto na confirmação e/ou orientação dos dados obtidos clinicamente; a observação da topografia da lise dos tecidos periodontais favorece a compreensão da patologia existente.

Reabsorção das cristas ósseas alveolares de forma generalizada em ambos os arcos. Fonte: Capella e Oliveira 4

As técnicas radiográficas extra e intra orais, como a panorâmica e as periapicais respectivamente, possuem atributos vantajosos para avaliação periodontal. A baixíssima dose de exposição aos Raios X e menor custo são alguns destes atributos. No entanto, quando se interpreta uma radiografia, deve-se levar em consideração que a imagem revelada/gravada em uma película/sensor radiográfico é uma projeção bidimensional (altura e largura) de um corpo tridimensional (altura, largura e profundidade); desta forma, sobreposições de estruturas podem levar a erros de interpretação.

Como por exemplo, no caso que segue:

Por meio da projeção radiográfica periapical, ao elemento 36, nota-se discreta perda de definição das trabéculas ósseas em região de furca. Ainda, há imagem sugerindo possível reabsorção óssea do tipo irregular (em arco) da região correspondente às raízes do dente 36. Neste caso em especial, os achados obtidos por meio da radiografia periapical são pobres e inespecíficos.

Somente através do exame tomográfico, é possível observar a evidente reabsorção de grande parte do cortical vestibular adjacente às raízes do dente 36, associada à hipodensidade de limites difusos (ponta da seta) acometendo furca, toda extensão perirradicular vestibular e periápice correspondentes à raiz mesial – lesão endoperiodontal.

Sublinha-se: a doença periodontal é dinâmica, progressiva e irreversível. O exame de imagem, isoladamente, ilustra apenas o nível de inserção óssea, não sendo capaz de determinar se a doença periodontal está em franco desenvolvimento, ou se seu progresso está sendo retardado pela terapia periodontal. O exame radiográfico irá sempre complementar os dados obtidos através do exame físico e da anamnese.

Referências Bibliográficas

1. Bostanci N; Bao K; Greenwood D; Silbereisen A; Belibasakis G N. Periodontal disease: From the lenses of light microscopy to the specs of proteomics and next-generation sequencing. Advances in Clinical Chemistry (Elsevier); 2019.

2. Woelber JP; Fleiner J; Rau J; Ratka-Kruger P; Hanning C. Accuracy and Usefulness of CBCT in Periodontology: A systematic Review of the Literature. International Journal of Periodontics & Restorative Dentistry; 2018.

3. Mariotti A; Hefti AF. Defining periodontal health. BMC Oral Health; 2015.

4. Capella LRC; Oliveira RJ. Atlas de radiografia panorâmica para o cirurgião-dentista. São Paulo: Santos; 2014.

5. Papaiz EG; Capella LRC; Oliveira RJ. Atlas de tomografia computadorizada por feixe cônico para o cirurgião-dentista. São Paulo: Santos; 2011.

6.Ferreira FV. Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 7ed. São Paulo: Artes Médicas; 2010.

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